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S. Cucufate villa romana: 40 anos depois

  • 12 Setembro, 2019

Há quarenta anos, em Agosto de 1979, iniciavam-se as escavações na villa romana de S. Cucufate.

A organização técnica e científica do projecto de trabalhos, a colaboração internacional, o envolvimento de estudantes e de gentes do concelho haveria de trazer para a arqueologia portuguesa um dos mais importantes sítios arqueológicos de Portugal e a mais bem conservada villa romana na Lusitânia.

Testemunho evidente da actividade agrícola em época romana, a sua ocupação como mosteiro na Idade Média e, depois, ainda no século XVIII como ermitério, os casarões de S. Tiago, como na toponímia local se identificam as instalações do proprietário rural do século IV d. C, marcaram a história antiga e a economia da região e, por no seu resgate se terem envolvido tantas gentes, pontuou a história cultural recente do concelho.

Publicada em livro, em francês, a villa romana de S. Cucufate atravessou, contudo, uma língua comum: aquela que todos os verões colocava em contacto várias dezenas de alunos, franceses e portugueses, e outros tantos trabalhadores vindos das aldeias do concelho. O diálogo que todos os dias se construía tinha o seu resumo e tradução na Adiafa, momento que concluía e eternizava a comunhão dos envolvidos, sempre pautado pelos grupos de cantares que eram convidados para a reunião. Encontro marcado na adega onde o vinho da talha, o pão, o queijo, os enchidos, o presunto e as azeitonas aplainavam as vozes que aos poucos se soltavam pelo tempo da planície.

Celebrar 40 anos das escavações de S. Cucufate é, antes de mais, celebrar a planície e os seus homens imortalizados no cante: os trabalhadores agrícolas que encontram seus ancestrais na villa romana de S. Cucufate. Mas é, também, celebrar a ciência que junta a ciência académica e a ciência da vida; que associa a academia com o poder municipal; que organiza o trabalho conjunto e partilhado para alcançar um bem maior.

Quarenta anos depois, e mesmo se a planície mudou, apresentamo-nos, os mesmos, para celebrar o bem maior: Um bem arqueológico e patrimonial ímpar, que importa dar a conhecer melhor ao mundo e um bem cultural imprescindível que, por ser impensado, alcançou o passado com a armadura da partilha no presente.

S.Cucufate não deixará apagar o som que da terra saía cada vez que nos juntávamos para a dar início à Adiafa e, quatro décadas depois, reunimo-nos novamente para inundar a terra com a nossa voz.

Veja o programa aqui.