Call for Papers – A Europa (quase) toda em Coimbra. Regra e hibridismo na produção escultórica de João de Ruão
- 9 Novembro, 2017
CEAACP-GEMA
IHA FLUC
EPHE PSL
26-28 Abril 2018 COIMBRA
Museu Nacional de Machado de Castro
O Grupo de Estudos Multidisciplinares em Arte (GEMA) do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP) da Universidade de Coimbra, em colaboração com o Instituto de História da Arte da FLUC e a École Pratique des Hautes Études (Sorbonne, PSL, équipe HISTARA 7347), organiza o Colóquio A Europa (quase) toda em Coimbra. Regra e hibridismo na produção escultórica de João de Ruão, a realizar em Coimbra (Portugal), entre 26 e 28 de Abril de 2018.
O normando João de Ruão estabeleceu em Coimbra a mais dinâmica oficina de escultura no Portugal do século XVI. Trabalhando sempre a pedra calcária da região, a sua produção abrangeu tanto o tratamento anatómico do corpo, como a inclusão de motivos ornamentais extraídos de referências várias, como o exercício científico da perspectiva, como a criação de uma espacialidade entregue aos fundamentos teóricos do Humanismo Cristão. A constante dualidade entre o trabalho escultórico e a construção do espaço arquitectónico consagra-o dentro da categoria laboral do escultor-arquiteto, tão cara às práticas artísticas da Europa de então, e eleva a sua obra ao estatuto de aggiornamento procurado pelas elites eruditas e poderosas.
A importância de João de Ruão no panorama artístico de Portugal (e Coimbra) não se compadece com o relativo alheamento a que tem sido votado pela historiografia. Se não é possível fazer uma leitura sobre a criação plástica do século XVI que exclua o seu nome, a verdade é que a análise tem sido lateral à sua obra, ausentando-se de uma problemática que urge descodificar para o melhor entendimento do processo complexo que envolve a sua produção específica e um circuito mais amplo que integra as correntes artísticas europeias no tempo largo do século XVI. Depois da última monografia que lhe foi dedicada em 1980, e à luz de todos os contributos fornecidos desde então, os grandes objetivos deste Colóquio passam pela discussão dentro das seguintes áreas temáticas:
1. Mobilidade e recriação.
A circulação de obras de arte e artistas num contexto europeu alargado promove a reprodutibilidade de formas e modelos conceptuais num universo laboral pautado pelo dinamismo das relações políticas e diplomáticas, comerciais e artísticas; não exclui também a capacidade de reajustamento sistemático a uma peculiar atmosfera criativa ou a direções alternativas impostas por elementos estranhos à obra. A interação desenvolvida entre diferentes geografias culturais, como a Normandia e o território francês, a Itália, a Flandres, a Espanha e Portugal, será o suporte de uma investigação dirigida à interpretação do trabalho específico de João de Ruão em Coimbra.
2. Condições laborais e estatuto social do artista.
As condições em que decorre o trabalho do escultor são princípios vitais para a descodificação da natureza e dos resultados da obra. A gestão das hierarquias montadas na oficina ou as relações com a encomenda interferem com o processo criativo e manifestam o grau de maior ou menor independência dentro dos circuitos laboral e social.
3. Escultura e arquitetura. As áreas da contaminação.
Planear formas e volumes e esculpir o espaço são ingredientes fulcrais na produção ruanesca. Na cultura científica do tempo, o desempenho da perspectiva e das técnicas do trabalho sobre a pedra conduz a resultados específicos em escultura e em arquitetura e movimenta um caudal de rigor e flexibilidade observável nas duas áreas disciplinares. Poder-se-á dizer que a escultura contamina a arquitetura e vice-versa; como a infiltração dos motivos híbridos na estrutura compositiva se poderá entender como a ação que mobiliza uma ideia de totalidade e harmonia cósmica; como ainda, em suma, a linha ténue que divide historiograficamente o Humanismo e as posições alinhadas com a Reforma Católica se dilui na observação da obra de João de Ruão, sempre contagiada pelas interferências múltiplas que a orientam.
4. Reconhecer João de Ruão.
Na torrente produtiva extraída da oficina de João de Ruão, a identificação das diversas “mãos” no trabalho artístico continua a ser um repto dificilmente ultrapassável para a historiografia. A maior parte das vezes, sem uma análise mais detalhada da diversidade, a solução passa pela atribuição da obra à “Escola de João de Ruão”. Identificar diferentes sensibilidades ou capacidades técnicas alternativas poderá ser um bom princípio para recomeçar a leitura do (ainda) enigma chamado João de Ruão.
PROPOSTAS DE COMUNICAÇÃO:
As propostas (máximo de 400 palavras) para uma comunicação de 20 minutos, em português, espanhol, inglês ou francês, deverão ser acompanhadas por uma nota biográfica (máximo de 300 palavras) até ao dia 28 de Janeiro de 2018 para o endereço: coloquiojoaoderuao@gmail.com